Arte Abstracta

Arte Abstracta

Categoria :Artes

Quem foi, de facto, o precursor deste movimento estético na Pintura?

Apesar da minha preocupação constante de divulgar ou recordar os artistas portugueses nos vários domínios da Arte, hoje apresento-vos um tema um pouco diferente, mais propriamente no domínio da História da Arte já que, desde a década de oitenta do séc. XX e de acordo com trabalhos de investigação por quem é perito, ficou definitivamente esclarecida esta questão:

 - A quem se deve atribuir o estatuto de pioneiro do movimento abstraccionista no âmbito das Artes Plásticas?

Aprendemos que o artista russo Wassily Kandinsky (1866-1944) foi o precursor deste movimento estético dada a inovação que trouxe para o universo das Artes, sendo mesmo um nome indispensável no modernismo europeu. Também aprendemos que este artista estudou os efeitos da cor, da forma e da própria criação artística, associadas à Música, como fonte de inspiração da expressão artística.

Ele próprio, em 1935 escrevia numa carta para o responsável da galeria de Nova York que o representava, reivindicando a autoria do primeiro quadro abstrato, uma aguarela pintada em 1910.

Nessa carta, a dado passo escrevia Kandinsky: «Sem dúvida, é a primeira pintura abstrata do mundo (...) trata-se, por outras palavras, de um quadro histórico».

Wassily Kandinsky - Primeira Aguarela Abstracta - 1910

Quais são as características dominantes do movimento abstraccionista na Pintura?

Resumidamente, a Arte Abstrata rege-se pelas seguintes características:

  • Valorização das linhas, cores, formas e texturas,
  • Ausência da representação da realidade e de imagens figurativas,
  • Uso de materiais diversos na produção das pinturas,
  • Formas livres e geométricas,
  • Relação intimista entre o artista, a obra e o espectador, isto é, a obra é essencialmente contemplativa.

Na Suécia e em 1906, uma artista plástica chamada Hilma af Klint (1862 - 1944) já pintava obras abstractas, bem antes de alguns dos mais célebres artistas europeus associados ao movimento da Arte Abstracta, tais como Wassily KandinskyPiet Mondrian, Paul Klee, Kazimir Malevich e muitos outros.

Pelas datas do nascimento e morte destes dois artistas - Kandinsky e Hilma -  verificamos que são contemporâneos.

As primeiras obras abstractas de Hilma af Klint constituem uma das séries artísticas mais emblemáticas: «Os quadros para o templo».

Consideram os especialistas que as obras de Hilma af Klint não são uma pura abstração da cor e da forma, por si só, mas antes uma expressão artística do que não é visível.

Em síntese, esta artista partindo dos elementos estruturais e compositivos da linguagem plástica, o ponto e a linha, associava-os à cor e criava formas geométricas diversificadas.

Na época, a Academia Sueca era um dos poucos lugares na Europa onde as mulheres podiam estudar.

Hilma af Klint e a sua geração, foi uma das primeiras a receber formação académica em Arte.

Assim, em 1880 Hilma af Klint frequentou a Escola Técnica de Estocolmo onde estudou pintura de retratos.

Em 1882, complementa a sua formação em pintura, na Real Academia de Belas Artes de Estocolmo, passando os cinco anos seguintes a estudar desenho, retrato naturalista e pintura de paisagens.

Porque ficou “escondida”, durante tantos anos, a obra plástica inovadora e vanguardista desta artista sueca?

Num breve resumo, aqui ficam alguns dados biográficos daquela que é considerada com toda a justiça a pioneira da Arte Abstracta:

- Em 1908, Hilma af Klint conhece o filósofo austríaco Rudolf Steiner, membro destacado da Sociedade Teosófica  e fundador da Antroposofia.

- Em 1909, quando Rudolf Steiner visita o estúdio da artista, afirmou que as suas obras plásticas abstractas só seriam entendidas e apreciadas depois de passarem uns cinquenta anos...

- Hilma af Klint realizou mais de 1400 trabalhos, entre pinturas e obras em papel, mas em vida, apenas expôs a sua obra figurativa, mas nunca a abstracta, exactamente porque pensava que esses seus trabalhos abstractos não seriam valorizados nem compreendidos, tal como lhe dissera o filósofo seu amigo, Rudolf Steiner.

- Antes de falecer, em 1944, Hilma teve a preocupação de deixar escrito no seu testamento que toda a sua obra abstracta só poderia ser exposta ao público após passarem 20 anos sobre a sua morte.

Assim, a história desta artista plástica sueca e, nomeadamente as suas pinturas inovadoras e vanguardistas no âmbito da Arte Abstrata permaneceram esquecidas até à década de oitenta do séc. XX quando, numa exposição das suas obras, o Museu de Arte do Condado de Los Angeles, a divulga e reivindica o estatuto de pioneira do abstracionismo.

Segundo consta, após algumas negativas de museus que não viam relevância na descoberta recente desta precursora do movimento abstracionista na Pintura, os sobrinhos de Hilma af  Klint criaram uma fundação e, com o apoio de alguns grupos artísticos da Suécia, organizaram o seu legado constituído por mais de 1400 trabalhos e outros 26 mil escritos, divulgando-o em exposições, livros, etc. Outras exposições se seguiram e sempre com enorme êxito.

Mais recentemente, em Outubro 2018, o Museu Solomon R. Guggenheim de Nova Iorque apresentou uma retrospectiva da pintora sueca, intitulada «Hilma af Klint: Paintings for the Future» onde, além das pinturas, foram expostos muitos cadernos de notas da artista onde se pode verificar o percurso criativo de cada obra abstracta.

Foi a primeira grande mostra individual da artista sueca nos Estados Unidos e, afirmado pelo próprio Museu, foi a exposição de maior sucesso e a mais popular da história deste famoso Museu, com 600.000 visitantes muito interessados e entusiastas.

Eis uma artista plástica tão pouco divulgada e conhecida entre nós e que valeria a pena aprofundar a sua vida, influências filosóficas na sua criação artística e, consequentemente, toda a obra plástica figurativa e abstracta.

M.ª Lourdes Mano Reis


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