Monthly Archives: Fevereiro 2021


João Luís Barreto Guimarães

Poeta premiado

Quantos de nós já leu, um poema que seja, deste poeta português galardoado recentemente nos Estados Unidos da América, precisamente no dia 8  Fevereiro 2021, com o prémio «Willow Run Poetry Book Award 2020»?

Este prestigiado prémio foi atribuído ao livro de poemas «Mediterrâneo», do poeta João Luís Barreto Guimarães, editado em Portugal em 2016 e já traduzido e publicado em vários países da Europa.

Teria sido fácil a atribuição deste conceituado galardão ao livro de poemas de João Luís Barreto Guimarães?

Eu diria que não foi nada fácil já que, a este prémio foram admitidos cerca de duas centenas de manuscritos de poetas americanos e não-americanos mas cujos livros foram traduzidos para Língua Inglesa.

Assim,  numa primeira etapa foram seleccionados 52 semifinalistas.  Seguiram-se depois, apenas 10 finalistas representantes dos EUA, Canadá, Reino Unido, África do Sul, Suíça, Japão, Índia, China e o nosso poeta.

João L. B. Guimarães é o primeiro português e o terceiro poeta distinguido por este notável prémio americano.

Além do valor monetário, o livro de poemas «Mediterrâneo» será publicado em todos os países anglo-saxónicos.

De que nos “fala” esta obra poética?  «Não é uma colecção de poemas que foram aparecendo, mas um conjunto que forma um todo, que surge para responder a alguma urgência, alguma pergunta, um mistério. É um livro que fala dos territórios divididos da Europa, belos, aterradores, portadores de civilização, sempre em disputa, sempre à procura de si mesmos.»

Cito o poeta:

«Em minha casa havia pouca poesia. A minha mãe era professora de Físico-químicas e tinha os livros do António Gedeão, que era o Rómulo de Carvalho. Então, as primeiras poesias com as quais tive contacto foram os versos do António Gedeão, que a minha mãe dizia frequentemente pela casa. Mas, verdadeiramente, o primeiro momento em que me lembro de ficar sobressaltado com a poesia e deslumbrado - a perguntar: "O que é isto, de onde é que isto está a aparecer?!" - foi nas aulas de Português do 9.º ou do 10.º ano, quando começo a estudar a obra do Cesário Verde e do Fernando Pessoa. E começo eu próprio a fazer as minhas tentativas: românticas, sofridas.»

De Dezembro 2013 a Novembro 2014 escreveu em prosa, uma crónica semanal para o Jornal de Notícias.

João Luís Barreto Guimarães está representado em Antologias e Revistas Literárias de Portugal, Espanha, França, Bélgica, Holanda, Reino Unido, Alemanha, Áustria, Itália, Hungria, Bulgária, Roménia, Eslovénia, Croácia, Montenegro, Macedónia, México, Uruguai, República Dominicana, Estados Unidos e Brasil.

Em 1992 recebeu o Prémio «Criatividade Nações Unidas».

Foi distinguido com o Prémio Nacional de Poesia António Ramos Rosa e duas vezes finalista do Premio Internazionale Camaiori.

Em Abril 2019, o livro «Nómada» arrecadou o prémio de «Melhor Livro de Poesia do Ano» da Editora Bertrand.

João Luís Barreto Guimarães nasceu no Porto a 3 Junho 1967.

Além de poeta e tradutor é médico.

Muito fica por referir sobre João Luís Barreto Guimarães e a sua obra poética que, na minha perspectiva, seria muito enriquecedor conhecermos mais profundamente.

Obras poéticas publicadas até ao momento:

  • Há Violinos na Tribo (1989)
  • Rua Trinta e Um de Fevereiro (1991)
  • Este Lado para Cima (1994)
  • Lugares Comuns (2000)
  • Rés-do-Chão (2003)
  • Luz Última (2006)
  • A Parte pelo Todo (2009)
  • Mediterrâneo (2016)
  • Nómada (2018)
  • O Tempo Avança por Sílabas (2019)
  • Movimento (2020)

Finalizo estas breves notas sobre o nosso poeta que hoje vos recomendo vivamente, recordando as sábias palavras do grande poeta da Catalunha, Joan Margarit, considerado o poeta «devoto da emoção» e Prémio Cervantes 2019, - o prémio mais relevante da Literatura Espanhola – falecido agora, no passado dia 16 Fevereiro:

«Escrever um poema é mais difícil que morrer; nem todos podem escrever um poema, morrer está ao alcance de todos.»

M.ª Lourdes Mano Reis

Obra literária de João Guimarães

Poeta, tradutor e médico

Apontar para a imagem para ler com tempo


Arte Abstracta

Categoria :Artes

Quem foi, de facto, o precursor deste movimento estético na Pintura?

Apesar da minha preocupação constante de divulgar ou recordar os artistas portugueses nos vários domínios da Arte, hoje apresento-vos um tema um pouco diferente, mais propriamente no domínio da História da Arte já que, desde a década de oitenta do séc. XX e de acordo com trabalhos de investigação por quem é perito, ficou definitivamente esclarecida esta questão:

 - A quem se deve atribuir o estatuto de pioneiro do movimento abstraccionista no âmbito das Artes Plásticas?

Aprendemos que o artista russo Wassily Kandinsky (1866-1944) foi o precursor deste movimento estético dada a inovação que trouxe para o universo das Artes, sendo mesmo um nome indispensável no modernismo europeu. Também aprendemos que este artista estudou os efeitos da cor, da forma e da própria criação artística, associadas à Música, como fonte de inspiração da expressão artística.

Ele próprio, em 1935 escrevia numa carta para o responsável da galeria de Nova York que o representava, reivindicando a autoria do primeiro quadro abstrato, uma aguarela pintada em 1910.

Nessa carta, a dado passo escrevia Kandinsky: «Sem dúvida, é a primeira pintura abstrata do mundo (...) trata-se, por outras palavras, de um quadro histórico».

Wassily Kandinsky - Primeira Aguarela Abstracta - 1910

Quais são as características dominantes do movimento abstraccionista na Pintura?

Resumidamente, a Arte Abstrata rege-se pelas seguintes características:

  • Valorização das linhas, cores, formas e texturas,
  • Ausência da representação da realidade e de imagens figurativas,
  • Uso de materiais diversos na produção das pinturas,
  • Formas livres e geométricas,
  • Relação intimista entre o artista, a obra e o espectador, isto é, a obra é essencialmente contemplativa.

Na Suécia e em 1906, uma artista plástica chamada Hilma af Klint (1862 - 1944) já pintava obras abstractas, bem antes de alguns dos mais célebres artistas europeus associados ao movimento da Arte Abstracta, tais como Wassily KandinskyPiet Mondrian, Paul Klee, Kazimir Malevich e muitos outros.

Pelas datas do nascimento e morte destes dois artistas - Kandinsky e Hilma -  verificamos que são contemporâneos.

As primeiras obras abstractas de Hilma af Klint constituem uma das séries artísticas mais emblemáticas: «Os quadros para o templo».

Consideram os especialistas que as obras de Hilma af Klint não são uma pura abstração da cor e da forma, por si só, mas antes uma expressão artística do que não é visível.

Em síntese, esta artista partindo dos elementos estruturais e compositivos da linguagem plástica, o ponto e a linha, associava-os à cor e criava formas geométricas diversificadas.

Na época, a Academia Sueca era um dos poucos lugares na Europa onde as mulheres podiam estudar.

Hilma af Klint e a sua geração, foi uma das primeiras a receber formação académica em Arte.

Assim, em 1880 Hilma af Klint frequentou a Escola Técnica de Estocolmo onde estudou pintura de retratos.

Em 1882, complementa a sua formação em pintura, na Real Academia de Belas Artes de Estocolmo, passando os cinco anos seguintes a estudar desenho, retrato naturalista e pintura de paisagens.

Porque ficou “escondida”, durante tantos anos, a obra plástica inovadora e vanguardista desta artista sueca?

Num breve resumo, aqui ficam alguns dados biográficos daquela que é considerada com toda a justiça a pioneira da Arte Abstracta:

- Em 1908, Hilma af Klint conhece o filósofo austríaco Rudolf Steiner, membro destacado da Sociedade Teosófica  e fundador da Antroposofia.

- Em 1909, quando Rudolf Steiner visita o estúdio da artista, afirmou que as suas obras plásticas abstractas só seriam entendidas e apreciadas depois de passarem uns cinquenta anos...

- Hilma af Klint realizou mais de 1400 trabalhos, entre pinturas e obras em papel, mas em vida, apenas expôs a sua obra figurativa, mas nunca a abstracta, exactamente porque pensava que esses seus trabalhos abstractos não seriam valorizados nem compreendidos, tal como lhe dissera o filósofo seu amigo, Rudolf Steiner.

- Antes de falecer, em 1944, Hilma teve a preocupação de deixar escrito no seu testamento que toda a sua obra abstracta só poderia ser exposta ao público após passarem 20 anos sobre a sua morte.

Assim, a história desta artista plástica sueca e, nomeadamente as suas pinturas inovadoras e vanguardistas no âmbito da Arte Abstrata permaneceram esquecidas até à década de oitenta do séc. XX quando, numa exposição das suas obras, o Museu de Arte do Condado de Los Angeles, a divulga e reivindica o estatuto de pioneira do abstracionismo.

Segundo consta, após algumas negativas de museus que não viam relevância na descoberta recente desta precursora do movimento abstracionista na Pintura, os sobrinhos de Hilma af  Klint criaram uma fundação e, com o apoio de alguns grupos artísticos da Suécia, organizaram o seu legado constituído por mais de 1400 trabalhos e outros 26 mil escritos, divulgando-o em exposições, livros, etc. Outras exposições se seguiram e sempre com enorme êxito.

Mais recentemente, em Outubro 2018, o Museu Solomon R. Guggenheim de Nova Iorque apresentou uma retrospectiva da pintora sueca, intitulada «Hilma af Klint: Paintings for the Future» onde, além das pinturas, foram expostos muitos cadernos de notas da artista onde se pode verificar o percurso criativo de cada obra abstracta.

Foi a primeira grande mostra individual da artista sueca nos Estados Unidos e, afirmado pelo próprio Museu, foi a exposição de maior sucesso e a mais popular da história deste famoso Museu, com 600.000 visitantes muito interessados e entusiastas.

Eis uma artista plástica tão pouco divulgada e conhecida entre nós e que valeria a pena aprofundar a sua vida, influências filosóficas na sua criação artística e, consequentemente, toda a obra plástica figurativa e abstracta.

M.ª Lourdes Mano Reis


Comunicar através da escrita

Categoria :Atividades Lúdicas

Sendo a escrita um dos meios de comunicação nem sempre foi apresentada, ao longo do tempo, da mesma forma, modo ou tipo. Desde as imagens rupestres até aos nossos dias foi evoluindo de modo a que passasse a ser compreendida nos grupos ou nas comunidades.

Através da escrita transmitimos as nossas atitudes, ideias, sentimentos…. Como é sabido temos vários géneros literários e a poesia é o que mais me encanta e foi pensando nisso que propus aos aderentes da CESVIVER a colaboração para divulgarem um poema, uma poesia ou um texto poético.

Recebi a participação de seis amigas, a quem muito agradeço. Estas serão publicadas de seguida.

Nota: O tempo de leitura é de 30 segundos, quem ler os textos em menos tempo pode clicar e passa ao slide seguinte. Para sair bastar clicar na cruz (X)

LER e ESCREVER

Apesar de ninguém ser leigo nesta matéria tomei a liberdade de vir recordar, para alguns, diferentes estilos de textos. Sabendo-se que texto é um conjunto de signos, codificados num sistema, com o intuito de transmitir uma mensagem. A poesia, por sua vez, está associada à carga estética das palavras, especialmente quando estão organizadas em verso.

Estes conteúdos que vou expor teve como base, a pesquisa na web, os quais estão referenciados nos links que apresento:

Conceito de Texto Poético          Diferença entre Prosa e Poesia

Poema e Poesia-qual a diferença?

Texto poético é aquele que apela a diversos recursos estilísticos para transmitir emoções e sentimentos, respeitando os critérios de estilo do autor. Nas suas origens, os textos poéticos tinham um caráter ritual e comunitário, embora tenham aparecido outras temáticas ao longo dos anos. Os primeiros textos poéticos, por sua vez, foram criados para serem cantados. Por esse motivo eles, até os dias atuais, apresentam essa musicalidade. O mais habitual é que o texto poético seja escrito em verso e se chame poema ou poesia, no entanto, existem textos poéticos sobre a forma de prosa. Muitos entendem a poesia e o poema como a mesma coisa. Eles não são sinónimos, mesmo estando interligados.

Poesia, poiesis do grego, no sentido etimológico, significa “produção artística” ou ainda “criar” e “fazer”. Essa, portanto, está presente não apenas em poemas, mas também em objetos, paisagens e outras formas de expressão. Consiste numa das sete artes tradicionais e é considerada como arte literária. A poesia refere-se à essência.

Poesia é a “Arte de criar imagens, de sugerir emoções por meio de uma linguagem em que se combinam sons, ritmos e significados”, enquanto poema é “Obra em verso ou não em que há poesia”, de acordo com o dicionário Aurélio.

A poesia é caracterizada pela utilização de recursos para expressar a linguagem de forma especial e diferente do normal, e provoca diversos efeitos de sentir naqueles que recebem a mensagem. Os recursos são usados para causar efeitos e sensações em quem está lendo, como por exemplo: recursos sonoros - o ritmo, a rima, a aliteração, entre outros; e o uso da linguagem para sugerir imagens, como as metáforas e as personificações. Entre os tipos de poesia, estão a lírica, épica e dramática.  Ainda há o tipo de poesia em “verso livre” em que poeta cria o próprio ritmo as regras, formulando um estilo único dentro do género literário.

Poema é um texto literário, estruturado em versos e estrofes. Uma estrofe é cada uma das seções que constituem um poema. Esse é formado por alguns versos, e as estrofes são separadas em um poema por uma linha em branco. Nele são revelados sentimentos, pensamentos e opiniões do escritor, podendo ter conteúdo emotivo. Um poema pode conter rimas, métricas, símbolos, metáforas, aliterações e demais recursos da língua portuguesa. O poema refere-se à forma. Pode ser classificado de acordo com um dos seis tipos: soneto, ode, poema épico, narrativo, dramático ou lírico.

Todos os textos poéticos são escritos a partir de experiências pessoais, sentimentos, factos, reflexões, etc. O poeta pode ser considerado como a voz do poema. O texto poético é a representação de algo por meio das palavras. É um texto expressivo, sensível, com ritmo e, até mesmo, uma musicalidade própria.

RMD


Mestre João Cutileiro

Categoria :Artes , Memórias

Pequena homenagem ao Mestre João Cutileiro

«Existe um antes e um depois do João Cutileiro na escultura nacional».

Esta é opinião do também escultor Rui Chafes, Prémio Pessoa 2015, que define o Mestre Cutileiro como «um inovador, um precursor, um nome incontornável, um pioneiro e um exemplo para muitos escultores mais novos do que ele».

Recorda ainda Rui Chafes que «as mulheres esculpidas em mármore polido são o rótulo de um homem maior, que se notabilizou pela forma como brincou com a História do País ao criar D. Sebastião...»

De facto, em 1970 o Mestre João Cutileiro foi viver para a cidade de Lagos e, como se aproximava o ano de 1973, data em que a cidade celebraria os 400 anos da elevação de Lagos a cidade, por reconhecimento régio de El-Rei D. Sebastião, no ano de 1573, o município encomendou uma escultura do jovem rei para comemorar esta data histórica.

Rompendo com a tradição, o escultor João Cutileiro cria um rei menino, sem espada, nem escudo e de face imberbe, afrontando o regime e a ordem instituída no Portugal antes do 25/Abril...

Mestre João Cutileiro foi alvo de muitas mais críticas e  controvérsia quando, em 1997, criou o monumento comemorativo ao 25/Abril/1974, colocado no Parque Eduardo VII, a pedido do Dr. João Soares, na época Presidente da Câmara de Lisboa.

Perante as críticas de que era alvo devido à sua ousadia criativa, inovação, e estética vanguardista, ironicamente dizia que não era «um fazedor de objectos destinados à burguesia intelectual do ocidente».

João Pires Cutileiro nasceu em Lisboa, no ano de 1937.

Faleceu este ano, no passado dia 5 de Janeiro, com 83 anos.

Em 1951, com apenas 14 anos, apresenta a sua primeira exposição individual em Reguengos de Monsaraz.

Frequentou a Escola Superior de Belas Artes de Lisboa (ESBAL), sendo aluno do Mestre Leopoldo de Almeida.

Por influência de Paula Rego vai para a Slade School of Art, em Londres.

Por todo o País encontramos fantásticas esculturas ou monumentos deste Mestre a embelezar praças, jardins, lagos, museus, hotéis, etc..

Exposições, prémios e distinções, internacionais e nacionais, são inúmeros.

A 3/Agosto/1983, foi agraciado com o grau de Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada pelo Presidente da República, General Ramalho Eanes.

Muito ficou por referir relativamente ao seu percurso biográfico.

Homem gentil, afável, interessado no trabalho dos outros artistas, generoso, curioso, apaixonado pela fotografia, pela amizade e pela comunicação, João Cutileiro era um verdadeiro embaixador da nossa Cultura, da boa-vontade e da justiça.

Mª. Lourdes Mano Reis